Morre a atriz Marília Pêra, aos 72 anos

Leandro Caldas | 04:42 | 0 comentários

A atriz Marília Pêra morreu às 6 horas deste sábado em sua casa, na Zona Sul do Rio. A causa da morte ainda não foi informada. Em entrevista ao GLOBO, em setembro, a atriz falou sobre um problema de saúde que a afastou do set de gravações da série “Pé na Cova” por um ano, um desgaste ósseo na região lombar: “Jamais imaginei que isso fosse acontecer. Mas tenho 72 anos, sou ex-bailarina e ex-atleta, é normal. Não tive recomendação de cirurgia. Chega uma hora em que você tem que operar e botar uma prótese ou simplesmente parar e ficar quieta”.

Marília Marzullo Pêra, irmã da também atriz e ex-Frenética Sandra Pêra, foi um dos grandes nomes do teatro brasileiro nas últimas sete décadas. Seu pai, o português Manoel Pêra, era ator e tinha uma companhia teatral no Rio; a mãe, Dinorah Marzullo, era atriz. A avó, Antonia Marzullo, fez vários papéis no cinema. Nascida no Rio, em 22 de janeiro de 1943, estreou nos palcos com apenas 19 dias de vida, numa peça que precisava de um bebê.

Apesar da experiência familiar, enfrentou a resistência do pai não queria que ela seguisse a vida artística. Ela insistiu e entrou para o mundo da dança, onde foi atuante dos 14 aos 21 anos, quando participou dos populares espetáculos de revista. Após convencer o pai, conseguiu um papel em “De Cabral a JK”, de Max Nunes. Foi quando conheceu o ator Paulo Graça Mello, com quem se casou aos 16 anos.

Juntos, se apresentaram no Circo Tihany e, à noite, trabalhavam na boite Plaza, em Copacabana. Encenaram ainda várias peças, como espetáculos infantis do Teatro de Brinquedo. A essa altura, Marília dançava o clássico e o moderno, sabia piano, tinha bons estudos musicais, podia cantar uma partitura à primeira vista, interpretava do lírico à bossa nova e chegou a compor sambinhas com o marido, exímio violonista. Participou da era de ouro dos musicais. Ainda assim, continuava desconhecida.

Aos 18 anos, já era mãe (de Ricardo Graça Mello). Seu primeiro grande papel foi em “Como vencer na vida sem fazer força”, disputado com Elis Regina, em 1964. No ano seguinte, a TV Globo foi inaugurada, e Marília deu início à carreira em telenovelas. A primeira foi “Rosinha do sobrado” (1965), já como protagonista. Na sequência, vieram a primeira versão de “A Moreninha” e, na Tupi, “Beto Rockfeller” (1968).

Paralelamente, conseguia trabalhos cada vez mais sólidos no teatro: “Se correr o bicho pega”, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar; “A ópera dos três vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill; “A megera domada”, de Shakespeare; e “Roda viva”, de Chico Buarque, pela qual passou a ser perseguida pela Ditadura.

Em 1969, destacou-se como Mariazinha, uma solteirona virgem, em “Fala baixo senão eu grito”, de Leilah Assumpção, papel que lhe deu o primeiro de três prêmios Molière. O segundo foi com o monólogo “Apareceu a Margarida” (1973), de Roberto Athayde e o terceiro, com “Brincando em cima daquilo” (1984), de Dario Fo e Franca Rame. Logo depois, em 1986, dirigiu e coreografou Marco Nanini e Ney Latorraca em “O mistério de Irma Vap”, que ficou 11 anos em cartaz.

Marília colecionou personagens marcantes. Na TV, entre outros, a Shirley Sexy de “O cafona”, a taxista Noeli de “Bandeira 2” (ambas em 1971), a Rafaela de “Brega & chique” (1987) e a vilã Juliana, na minissérie “O primo Basílio” (1988).

No cinema, depois de uma estreia que não a agradou, em “O homem que comprou o mundo” (1968), de Eduardo Coutinho, persistiu na tela grande. Em 1980, recebeu o prêmio de melhor atriz da Associação dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos, pela prostituta Sueli em “Pixote, a lei do mais fraco”, de Hector Babenco. “Isso me abriu as portas do mundo, mas não fui trabalhar nos EUA porque não dominava o inglês”, contava. Entre seus 24 filmes, estão “Bar Esperança, o último que fecha” (1983) de Hugo Carvana, e “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles.

Mesmo fazendo TV e cinema, em nenhum momento abandonou os palcos. Foi Dalva de Oliveira, dirigiu uma peça sobre Maria Callas e atuou, cantou e dançou na pele de Carmen Miranda. Por sua atuação em “Mademoiselle Chanel” ganhou o Prêmio Faz Diferença 2006, do GLOBO, e o Shell. Em 2013, estrelou “Alô, Dolly!”.

No ar no seriado "Pé na cova", Marília recentemente participou de "Aquele beijo", em 2011, sua última novela.


Fonte: O Globo



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